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sábado, 31 de março de 2012

Conversas Sobre Educação Online: Educação Presencial e Online e Interatividade (Discussão sobre Educação Online no Curso de Pedagogia Presencial da FACED/UFJF em 2012) - 1º DIÁLOGO


Antes de ler o diálogo abaixo vejam o vídeo do Dr. Marco Silva sobre a questão da Interatividade na Educação.



Olá Pessoal,

É muito bom escutar a voz de vocês e as informações novas que podemos construir  a partir de nossas interações, não é mesmo?

A questão da mudança de paradigma de nossa sociedade é um dos pontos fundamentais a ser compreendido por nós, a fim de que possamos ultrapassar modelos tradicionais de produção de conhecimentos em favor de novos posicionamentos relacionais, interativos e dialógicos de criação dos saberes.

Como aponta Marco Silva (2009), o "ciberespaço e cibercultura significam rompimento paradigmático com o reinado da mídia de massa baseada na transmissão. Enquanto esta efetua a distribuição para o receptor massificado, o ciberespaço, fundado na codificação digital, permite ao indivíduo teleintrainterante a comunicação personalizada, operativa e colaborativa em rede hipertextual".

Ora, como a maioria de vocês apontaram não são poucas as experiências que temos do modelo educacional que valoriza a transmissão de conteúdos de forma irrefletida, sem a participação/interação dos ouvintes e  sobretudo, a partir de um modelo de imposição de valores de uns sobre os outros. Ora, isto não seria (de certo modo) os princípios da cultura de massa no seio da educação?

Atualmente, com a cibercultura a educação não pode admitir mais este tipo de relação monológica e unidirecional (em que só um fala e diz sobre o saber). Mas, sobretudo, que os espaços de criação e produção dos saberes acontecem no ciberespaço, em um espaço e tempo dialógico e com uma potencialidade de criação de saberes de forma co-participativa e interativa. 

Neste sentido, não sou eu que sei e o outro que escuta o que sei e sim somos nós que sabemos e criamos/produzimos os saberes co-participativamente e interativamente. Pois, como aponta André Lemos (apud SILVA, 2009) o ciberespaço é o “hipertexto mundial interativo, onde cada um pode adicionar, retirar e modificar partes dessa estrutura telemática, como um texto vivo, um organismo auto-organizante”; é o “ambiente de circulação de discussões pluralistas, reforçando competências diferenciadas e aproveitando o caldo de conhecimento que é gerado dos laços comunitários, podendo potencializar a troca de competências, gerando a coletivização dos saberes”; é o ambiente que “não tem controle centralizado, multiplicando-se de forma anárquica e extensa, desordenadamente, a partir de conexões múltiplas e diferenciadas, permitindo agregações ordinárias, ponto a ponto, formando comunidades ordinárias”.

Mas e a Educação o que tem feito diante da cibercultura?

Como vocês apontaram, as metodologias utilizadas na escola e universidades, tanto no modelo presencial quanto no online, ainda privilegiam a perspectiva monológica e uniderecional de transmissão dos conhecimentos. O professor sabe e fala o aluno escuta.

Todavia, " a geração digital", cada vez menos, vem aceitando estes posicionamentos pedagógicos tradicionalistas, uniderecionais e que tem por base o nonologismo como fonte de transmissão/imposição de conhecimentos. Pois, os "nativos digitais" "estão cada vez menos passivos perante a mensagem fechada à intervenção, pois aprenderam com o controle remoto da televisão, com ojoystick do videogame e agora com o mouse do computador conectado. Eles evitam acompanhar argumentos lineares que não permitem a sua interferência e lidam facilmente com a diversidade de conexões de informação e de comunicação nas telas. Modificam, produzem e partilham conteúdos. Essa atitude diante da mensagem é sua exigência de uma nova sala de aula, seja na educação básica e na universidade, seja na educação presencial e na educação à distância" (SILVA, 2009).

O nosso tempo mudou, a tecnocultura (a ciência aliada ás técnicas modernas) se transformou em cibercultura e as práticas pedagógicas, agora, estão imersas em novas perspectivas tecnológicas que, sem uma formação continuada adequada dos educadores, poderá provocar ou a ampliação qualitativa da educação ou o seu fracasso pedagógico.

Como já apontei acima, o conhecimento não é mais uma via de mão única e, sim, é um encontro entre saber, educador e educando: o nós em recriação e criação de saberes. Por isto que Marco Silva (2009) diz que "A participação do aprendiz inscreve-se nos estados potenciais do conhecimento proposto pelo professor, de modo que ambos evoluam com coerência e continuidade em torno dos objetivos de aprendizagem planejados. O aprendiz não está mais reduzido a olhar, ouvir, copiar e prestar contas. Ele cria, modifica, constrói, aumenta e, assim, torna-se coautor".  Ou seja, O educador "garante a possibilidade de significações livres e plurais e, sem perder de vista a coerência com sua opção crítica embutida na proposição, coloca-se aberto a ampliações, a modificações vindas da parte dos aprendizes"(SILVA, 2009).

Marcos Silva nos aponta, ainda, algumas pistas para o fazer pedagógico co-autoral e interativo que são muito interessantes: Propiciar oportunidades de múltiplas experimentações e expressões; Disponibilizar uma montagem de conexões em rede que permita múltiplas ocorrências; Provocar situações de inquietação criadora; Arquitetar colaborativamente percursos hipertextuais; Mobilizar a experiência do conhecimento.

Portanto, a pedagogia da co-autoria e da interativa é a nova perspectiva que tanto a educação presencial como a online necessitam conhecer e implementar em seus processo pedagógicos. Somente assim, poderemos dizer que a educação ultrapassará modelos pedagógicos unidirecionais e monológicos em favor de uma perspectiva multidirecional e dialógica, rumo a uma qualificação e ampliação da educação brasileira.

Espero que tenham gostado de estar nesta posição de co-autores interativos de conhecimentos!

Abçs.


Referências

SILVA, Marco. Educação Presencial e Online: sugestões de interatividade na cibercultura. Disponível em: <http://abciber.org/publicacoes/livro1/textos/educacao-presencial-e-online-sugestoes-de-interatividade-na-cibercultura/>. Acesso em: 01. mar. 2012.
LEMOS, André. Cibercultura, tecnologia e vida social na cultura contemporânea. 4. ed. Porto Alegre: Sulina, 2008. 

quarta-feira, 21 de março de 2012

Conversas Sobre Filosofia e Educação Ano 2: O que é Filosofia e Filosofia da Educação? (Discussões sobre Filosofia da Educação no Curso de Pedagogia a Distância da UAB/PPGE/UFJF em 2012) - 1º DIÁLOGO


Este diálogo representa a discussão teórica no curso de Filosofia da Educação a Distância da Faculdade de Educação da Universidade Federal de Juiz de Fora/ Universidade Aberta do Brasil em que sou tutor a distância.
O que pretendo é que o leitor possa compreender que o processo aprendizagem em Ambientes Virtuais de Aprendizagem (AVA) como o Moodle pode ocorrer a partir de uma perspectiva dialógica em que tanto educando como educador são partes integrantes de uma dialogicidade que promove uma formação dialógica.      


Olá Pessoal,

Ufa!!!! Quantas informações, vozes, pensamentos.....
Que bom ver a animação de vocês e a vontade de buscar compreender o que é a Filosofia e a Filosofia da Educação!

Deixar vocês um pouco sós foi uma estratégia para que eu pudesse perceber o que fariam diante de uma questão tão profunda, complexa e diria até, inefável(que não se pode expressar tão facilmente).

Entender o que é a Filosofia e a Filosofia da Educação é uma tarefa que não será encerrada neste curso. Mas podermos apontar-lhes pistas para que possamos nos aproximar de alguma conceituação e contextualização aceitáveis sobre o que sejam estes conhecimentos. 

Primeiramente, podemos compreender de antemão que filosofia não é filosofia de vida! Ou seja, a filosofia de vida existe quando assumimos determinadas condutas (modos de ser e agir) que nos tornarão mais felizes (ou infelizes, depende do gosto), eficazes, satisfeitos, etc. Ou seja o fato de fazermos sempre uma coisa da mesma maneira aponta para a condição de termos uma filosofia de vida. As pessoas que se levantam e olham para o espelho e dizem que são lindas, que o dia será maravilhoso (auto ajuda), que olham para o sol e o homenageiam (como o pessoal da pousada da novela Fina Estampa), têm uma filosofia de vida. Nas empresas, por exemplo, o fato de terem determinadas ações rotineiras (café da manhã ou academia de ginástica para seus funcionários)  que melhorarão sua eficácia e desempenho econômico, a torna uma empresa com uma filosofia empresarial. Ações rotineiras, maneiras de conduta ou ações que visam a eficácia (dos ser humano ou da empresa) são filosofias de vida (ou empresariais, pessoais, profissionais) e não são filosofias! Tudo bem pessoal? 

Todavia, ao contrário do que disseram alguns(mas) de vocês, a Filosofia é um conhecimento que está presente em nossa vida em tempo integral por ser este um saber próprio do ser humano ( mas não como filosofia de vida).

Ora, não encontramos nenhum cachorrinho ou alface, ou pedra (a não ser em desenhos animados e filmes em que animais e seres inanimados se transformam em seres humanos - antropomorfismo) por aí questionando: O que eu sou? de onde eu vim? para onde eu vou? ou sussurrando a frase célebre de Shakespeare em algum canto desolado, "Ser ou não ser, eis a questão?.

Tais questionamentos nasceram quando o homem, mesmo antes da filosofia, começou a ter consciência de de si e de que ao seu redor existiam coisas, fenômenos e pessoas. Esta consciência fez surgir nos homens (e mulheres) uma profunda inquietação, uma necessidade visceral  em compreender o que sou eu e o que são tais entes que circundam à minha volta. Deste contexto, surgem as perguntas que vão povoar a mente dos seres humanos ao longo de toda a história humana e que criarão os mais diversos tipos de conhecimentos que os homens e mulheres foram capazes, como o mito, a religião, o senso comum, a filosofia, a ciência e a arte: quem sou eu? de onde eu vim? para onde eu vou? são os questionamentos (problemas) fundamentais que o ser humano tenta responder por toda a humanidade!

Por isto, que em O Mundo de Sofia temos, como prerrogativa filosófica do filme, uma carta que chega para Sofia Amundesen lhe questionando: Quem é você? A partir desta carta toda uma reflexão profunda sobre a história da filosofia (que é a história do pensamento dos homens e mulheres agindo e questionando a si mesmos e ao mundo) começa a se desenrolar 

Vejam o filme completo

Demerval Saviani, nos apontará que a filosofia "nasce" (ou acorda de um grande adormecimento) em nós, quando estamos diante de um problema que não temos as respostas. Portanto, a filosofia é uma inquietação, uma busca incessante, incansável para descobrir respostas a questões que talvez não saberemos respondê-las. Como muitas de vocês disseram é uma busca amorosa (no grego Philo=amizade, amante e Sophia=sabedoria) pelo conhecimentos mesmo que dele não obtenhamos respostas satisfatórios. Filosofia é então uma análise, crítica e reflexiva sistemática e criteriosa sobre todas as coisas que o homem tem a curiosidade de conhecer e desvendar, como várias de vocês disseram.

Talvez a melhor maneira de dizer o que é a filosofia seja a resposta dada por Marilena Chauí sobre qual a utilidade da filosofia:

"Qual seria, então, a utilidade da Filosofia?
Se abandonar a ingenuidade e os preconceitos do senso comum for útil; se não se deixar guiar pela submissão às idéias dominantes e aos poderes estabelecidos for útil; se buscar compreender a significação do mundo, da cultura, da história for útil; se conhecer o sentido das criações humanas nas artes, nas ciências e na política for útil; se dar a cada um de nós e à nossa sociedade os meios para serem conscientes de si e de suas ações numa prática que deseja a liberdade e a felicidade para todos for útil, então podemos dizer que a Filosofia é o mais útil de todos os saberes de que os seres humanos são capazes."

(CHAUÍ, Marilene, Convite à Filosofia. Disponível em: <http://www.fag.edu.br/professores/bau/FAG%202012/Fonoudiologia%20Filosofia/Livro%20Convite%20A%20FILOSOFIA%20CHAUI.pdf Acesso: em 21 mar.2012. p. 17)

Ora se a Filosofia é uma busca incessante para a compreensão de nós mesmos e dos entes que estão à nossa volta, o que seria então a Filosofia da Educação? 

Esta questão vamos discutir mais um pouco em outros momentos. Por ora, precisamos saber que a filosofia da educação questiona as práticas pedagógicas com a mesma potencialidade que interroga outras questões!

Espero que eu tenha clareado um pouco o pensamento de vocês sem que o tenha encerrado em um conceito único de filosofia!

Abçs.