“Mas o que sou eu então? Uma coisa que pensa. E o que é uma coisa que pensa?”
Descartes
Sempre que nos colamos a pensar o que é a filosofia, logo nos vem à cabeça aqueles homens que viveram no passado, afastados da sociedade, ociosos e que pensavam sobre o que seria a natureza, o homem, a sociedade, as coisas ou os deuses. Pessoas meio malucas que deixavam de viver os momentos e benefícios que a cultura e a sociedade lhes ofereciam para ficar pensando, pensando e pensando.
De fato, foi isto que aconteceu e acontece. Alguns homens deixaram e deixam até hoje de terem uma vida comum como a de todos os outros indivíduos da sociedade para fazerem questionamentos fundamentais sobre a realidade em que vivemos na tentativa de encontrar respostas àquelas perguntas que já dissemos aqui: quem sou eu?; de onde eu vim; e para onde eu vou?
Neste momento, com o pensamento voltado para o questionamento da realidade, que a filosofia torna-se uma tentativa de buscar respostas às mais diversificadas questões: qual a ordem da natureza (phisis)?; que tipo de comportamento os homens têm consigo mesmos e em relação aos outros?; em que condições político-sociais é formada a realidade?; quais conhecimentos científicos podemos aceitar como válidos?; qual a existência e funcionalidade das coisas que existem no mundo?; entre outras.
Contudo, o que todos os filósofos, sem exceção, estiveram e estão dispostos a fazerem é pensar para que a humanidade possa se instruir e compreender um pouco da realidade em que vive. O trabalho do filósofo, consiste em criar conhecimentos para que possamos ensiná-los de geração em geração, a fim de que os seres humanos possam ver o mundo de uma nova maneira, com um novo olhar, com uma nova perspectiva. Pois o que os filósofos pretendem é propor uma determinada ordem à realidade a partir de conhecimentos que possibilitem às pessoas entenderem as regularidades na natureza, as relações sócio-políticas, as produções científicas e a criação e construção das coisas que existem no mundo.
Educar, portanto, é questionar, criar e transmitir conhecimentos, primeiramente pensados pelos filósofos e depois disponibilizados aos futuros homens e mulheres da sociedade. Nesta condição, neste processo de formação dos seres humanos e o papel do filósofo e da filosofia são fundamentais para o crescimento e progresso da humanidade. Pois, a filosofia como análise crítico-reflexiva da realidade será a base e o fundamento de todos os conhecimentos existentes no mundo: da ciência, da arte, da religião e da própria filosofia. Pois, os filósofos, com a pretensão de buscar conhecer o princípio (arché) que fundamenta a realidade, produziram e produzem os mais diversos pensamentos e conhecimentos para a humanidade.
Por isso, que em algum momento de nossas vidas, escutaremos sempre a voz dos filósofos a dizerem sobre coisas que não imaginávamos pensar. Quem de nós nunca ouviu frases como a: “o ser é e o não ser não é”; “ninguém entra no mesmo rio duas vezes”; “amor platônico”; “amar a Deus acima de todas as coisas”; “penso logo existo”; “ser ou não ser eis a questão”; “pensar nos limites da razão”; “Freud explica”; entre tantas outras.
Todos estes pensamentos podem parecer apenas frases sem sentido, apenas jargões populares. Mas, na realidade, são o resultado de um trabalho exaustivo e que, em muitos casos, levou uma vida inteira para serem elaborados, a partir de uma busca incessante por respostas que satisfizessem os anseios por conhecimentos desprezados pela humanidade. São pensamentos e elaborações conceituais que apontaram e continuam apontando os rumos para a história futura e o progresso da humanidade.
O que seria de nós, simples mortais, se não fossem os pensamentos malucos dos imortais pensadores da humanidade?
Talvez estaríamos vivendo na idade da pedra lascada assistindo ao “Big Brother” da caverna lascada do vizinho, acreditando nas sombras que se projetavam nas paredes das cavernas, pensando ser o melhor cidadão da tribo por ter um couro de marca e um osso raro.
Assim, progredimos e crescemos com os pensamentos dos filósofos.
Mas será que mudamos em relação aos nossos ancestrais primitivos? Ou continuamos fazendo tudo o que eles faziam?
Apesar do progresso e do crescimento da humanidade, nós ainda acreditamos ser verdadeiro coisas que são irreais ou ficções. Acreditamos em sombras e fantasmas, nos emocionamos com as novelas na televisão, criamos mundos imaginários com a literatura, ficamos horas e horas navegando no mundo virtual da internet, vivemos os prazeres das marca e da moda, aceitamos todos os benefícios da técnica em nossa vida, entre muitas outras coisas, por acreditarmos que as conhecemos e por acharmos serem verdadeiras. Mas o filósofo Nietzsche nos questionará: “Por que sempre a verdade? A verdade existe?
Não mudamos muito em relação aos homens das cavernas, apenas aprimoramos nosso modo de acreditar e aceitar no que os outros pensaram para nós. Aceitamos as verdades e perspectivas que nos são impostas porque é mais fácil, mais aconchegante, menos doloroso pensarmos sobre elas.
Por isto, que temos que passar a ter a atitude filosófica, para que possamos correr riscos e pensarmos sobre as coisas que normalmente não pensaríamos, criarmos conhecimentos que não existiriam, agir para que a vida no mundo passe a ser agradável, fraterna, inteligente, feliz e livre de imposições e verdades absolutas.
Portanto, vamos pensar filosoficamente, para podermos ver o mundo com outros olhos, os olhos da admiração, do espanto, do questionamento para que, talvez no futuro, sejamos reconhecidos como filósofos que criaram conhecimentos e que transformaram o mundo em que viveram.
Octavio Silvério de Souza Vieira Neto
Verão de 2009
Verão de 2009
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