O Ser humano é uma figura interessante!
Nasce, começa a caminhar, leva os primeiros tombos, vira criança e começa a querer coisas, situações, colo. Fica adolescente (alguns diriam aborrecente) e, neste instante, começam-se os conflitos: primeiramente com os irmãos; logo em seguido passam aos pais; não suportando somente isto entram em crise consigo mesmos; e para finalizar se revoltam com a humanidade. Este processo de transformação o leva aos mais estranhos conflitos, angustias e posicionamentos: resolve virar punk, passa a agredir tudo e todos, se envolve em galeras, usa roupas estranhas, escuta músicas diferentes, se exclui do convívio da família, bebe o que vê pela frente, entre outras coisas proibidas. O Filósofo dinamarquês Sören Kierkegaard (1813-1855) diria que os adolescentes vivem numa verdadeira embriaguês estética, onde tudo é uma espécie de vida aparente, distante das responsabilidades do mundo real.
Um dia este ser humano amadurece e, segundo Kierkegaard, pode escolher saltar para outra esfera da vida: escolher ser ético, constituir uma família, conquistar patrimônios como casas, carros, empresas, e equipamentos para o seu bem estar. Mas ele envelhece, adoece e, apesar de todas as suas conquistas, finalmente morre.
É inevitável este ciclo natural. Mas, acima de tudo, é provocador por nos fazer questionar sobre uma coisa muito importante em nossa vida: para que vivermos, nos estressarmos, nos angustiarmos, nos aborrecermos, comprarmos, ficarmos felizes, criarmos estilos de vida, entre outras coisas, se ao final morreremos? Na Filosofia perguntamos, Por que somos finitos?
Nesta breve história do ciclo evolutivo do ser humano e dos questionamentos que poderíamos fazer a seu respeito, um é muito interessante. É que ao longo da vida os homens e mulheres passam por um processo de aprimoramento (Kierkegaard diria angustiante) de seus modos de viver e de pensar sobre tudo que está à sua volta. Ou seja, o modo como pensamos e agimos é diferente em cada fase da nossa vida. Com isto os homens e mulheres, a cada instante de suas vidas, estão aprendendo para responderem seus questionamentos mais profundos; se relacionando com pessoas para entenderem o que é conviver; conhecendo as coisas e o mundo para compreenderem o porquê de tudo isto; e, fundamentalmente, vivendo para experimentarem por que é necessário conhecer e construir coisas, sofrer, ser feliz, amar, odiar, trabalhar e ao final morrer.
No decorrer de uma vida, portanto, o ser humano vive para tornar-se mais apto a pensar sobre tudo que está à sua volta: sobre ele mesmo, sobre as coisas e sobre o mundo. Mas há os momentos em que essa busca por respostas fez e faz com que os homens e as mulheres pensem sobre coisas mais profundas como: quem eu sou?; de onde eu vim?; para onde eu vou?.
Talvez seja este o ponto de revolta que observamos nos adolescentes e talvez seja a falta de respostas a estes questionamentos que os fazem viver na embriagues estética da vida aparente.
Mas o certo é que desde o início da humanidade o ser humano foi impulsionado a pensar a partir destes simples e profundos questionamentos. Sobre estas questões, os seres humanos criaram respostas fantásticas. Para responder quem somos foram criadas os mais variados conceitos e formas de existir para a vida humana e para a natureza: ser ordenado e desordenado, triste e feliz; feio e bonito; tranqüilo e estressado; ineficiente e eficiente; bom e ruim; e hoje, na moda, “antenado”, cibernético, noveleiro, politiqueiro, “filé”, entre outros. Para responder sobre a origem do ser humano, das coisas e do mundo foram criadas as mais variadas histórias que justificariam as suas existências: os mitos de origem do homem (Mito de Adão e Eva), da noite e dos males do mundo (Mito de Pandora), do fogo (Mito de Prometeu), entre outros. E, finalmente, tentando responder para onde vamos foram criados os mais variados seres e mundos que pudessem amenizar o sofrimento da vida e da inevitável finalidade do homem, a morte: surge, portanto, a religião, os diversos deuses e santos e a vida após a morte no paraíso.
Assim, os primeiros seres humanos puderam produzir uma infinidade de respostas aos seus questionamentos criando a cosmogonia (termo que abrange as diversas lendas e teorias sobre as origens do universo de acordo com as religiões, mitologias e ciências através da história); os mitos (que são uma narrativa tradicional com caráter explicativo e/ou simbólico, profundamente relacionado com uma dada cultura e/ou religião a fim de procurar explicar os principais acontecimentos da vida, os fenômenos naturais, as origens do mundo e do homem por meio de deuses, semideuses e heróis, criaturas sobrenaturais como uma primeira tentativa de explicar a realidade); e a religião (definida como um conjunto de crenças relacionadas com aquilo que parte da humanidade considera como sobrenatural, divino, sagrado e transcendental, bem como o conjunto de rituais e códigos morais que derivam dessas crenças).
Mas será que estas explicações satisfizeram as dúvidas e curiosidades da humanidade? Ou o homem ainda procuraria novas maneiras de investigar sobre as coisas que aconteciam à sua volta?
Não satisfeitos com as explicações de seus antepassados sobre as coisas e fenômenos existentes no mundo, os homens proporiam uma nova maneira de entenderem a realidade. Surge, então, a Filosofia, análise-crítico-reflexiva da realidade, e a Ciência, comprovação dos fenômenos da realidade, como novas formas de explicar os fenômenos do mundo.
Octavio Silvério de Souza Vieira Neto
Verão de 2009
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