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domingo, 19 de setembro de 2010

Introdução à Filosofia: O Nascimento da Filosofia na Humanidade - Parte 2


Criança geopolítica observando o nascimento do homem novo (Salvador Dalí - 1943 - 45,5 cm X 50 cm)

A filosofia nasce do espanto”
Platão


       Desde a pré-história os seres humanos conseguiram criar condições especiais para que pudessem sobreviver diante da imensidão e instabilidade do mundo que estava à sua volta.
Aprimorando sua capacidade de raciocinar sobre suas necessidades de sobrevivência os seres humanos foram capazes de criar modos de consciência que pudessem minimizar os problemas existentes em suas condições de vida.
Foram três os modos de consciência dos homens primitivos: a consciência do trabalho, que lhes possibilitou aprimorar as técnicas de construção de ferramentas, de caça, de pesca, de construção e de plantação; a consciência comunitária, que lhes permitiu fixar-se em determinados locais, viver em agrupamentos humanos, fazer a distribuição de tarefas entre os moradores da comunidade e criar a hierarquia entre os que comandavam e os que eram comandados na comunidade; e por fim, a consciência simbolizadora que os fizeram pensar sobre os fenômenos que ocorriam à sua volta, explicá-los e conceituá-los, como o fogo, a chuva, o céu, as estrelas, as relações familiares, as hierarquias, as saudades e até a morte.    
É claro que todos nós sabemos que diante da natureza o ser humano percebe certa regularidade, uma determinada ordem natural: o sol nasce todos os dias, anoitece, chove em períodos determinados, entre outros. Mas quando somos surpreendidos por fenômenos gigantescos e devastadores vindos da natureza nos sentimos inferiores e em um mundo caótico, desordenado, indeterminado.
Foi, por exemplo, o que aconteceu quando um enorme “tsunami” invadiu a costa marítima da Ásia, em 2004, ou quando o excesso de chuvas e as enchentes catastróficas (inclusive de lama) invadiram cidades do Sul do Brasil, em dezembro de 2008. Neste momento o ser humano, de qualquer época histórica, se sente incapaz, impotente e pequeno demais diante do poder e grandeza da desordem da natureza.
Mas o que acontece com o ser humano quando está diante de tragédias que mudam a sua vida?
Certamente, restam-lhe duas opções: ou se agarram aos conhecimentos da tradição (o mito e a religião) para tentar justificar e confortar suas vidas diante da tragédia ocorrida; ou arrumam outra forma de investigar o que de fato aconteceu para causar tanto desespero humano. 
Agora, diante da calamidade, é que podemos perceber que todos os modos de consciência se expandiram no decorrer da história em função da necessidade de melhorar a existência humana: o progresso se ampliou com o aumento da técnica; as sociedades se diversificaram, cresceram e viraram grandes núcleos urbanos com pessoas se ajudando o tempo inteiro; e tudo isto só foi possível porque o homem passou a pensar melhor e cada vez mais.
Mas de todas as investigações e pensamentos dos seres humanos, a consciência simbolizadora foi a que mais se ampliou e foi ela que fez nascer a filosofia e a ciência. Pois, resolvendo assumir a segunda opção, o de pensar a realidade de forma diferenciada em relação à tradição, os gregos do século VII a. C. passaram a dar respostas diferenciadas aos fenômenos que ocorriam em suas cidades fazendo nascer duas novas modalidades de conhecimento na humanidade: a filosofia e a ciência.
É claro que os primeiros filósofos, chamados pré-socráticos (por viverem antes do filósofo Sócrates) ou físicos da natureza (por quererem descobrir o princípio que rege a natureza), não deixaram de acreditar nos mitos e deuses que sustentavam sua sociedade. Mas, agora, queriam dar uma explicação racional (com base no pensamento) para os fenômenos da natureza. 
Analisando e observando a natureza os gregos (pré-socráticos ou físicos da natureza (Séc. VI a.C.) puderam dar as mais diversificadas explicações sobre o princípio que ordenava a natureza à sua volta. Tempos depois outros gregos (período antropológico/socrático Séc. IV a.C.) discutiram e argumentaram sobre o princípio que fazia com que o homem, no convívio comunitário, vivesse com justiça. E anos mais tarde novos sábios (os pós-socráticos séc. III a. C.) pensaram sobre os sentimentos, desejos e ações individuais dos homens vivendo em um mundo grandioso, cosmopolita, diverso e caótico (o mundo helênico).
Mas o fato mais importante destes períodos da história humana é que o ser humano se descobriu como um ser pensante, um ser que podia investigar todas as coisas da realidade e lhes atribuir um conceito universal (que serve para todos os lugares) que fosse o produto de sua reflexão.
A cosmogonia (descrição que explica como do caos surge o cosmo [ordem natural], a partir da geração dos deuses, identificados às forças da natureza) será substituída pela cosmologia (as explicações rompem com o mito e a religião para demonstrar que o princípio (arché) que fundamenta as coisas no mundo não se encontra na ordem e no tempo mítico e religioso, mas no princípio teórico e racional do homem, o fundamento de todas as coisas), passando a ser a base do pensamento filosófico e científico da humanidade.
Pensar o nosso mundo hoje, só é possível porque os gregos o pensaram primeiro. A antropologia (estudo do homem), a ciência (estudo dos fenômenos), a astronomia (estudo do universo), a matemática (estudo da lógica dos números e cálculos), a geometria (estudo das formas), a física (estudo dos movimentos), a biologia (estudo das espécies), a filosofia (busca do saber), os esportes, o teatro, a retórica, a política, entre outros, são todos conhecimentos que os gregos estudaram e deixaram como herança intelectual para o nosso mundo. 
Não poderemos pensar o nosso mundo sem a contribuição que os gregos deixaram para nós. Pois pensá-lo assim seria pensar o mundo sem a 9ª sinfonia de Beethoven. O pensamento dos Gregos está para o nosso mundo assim como a televisão está para as nossas casas.

Octavio Silvério de Souza Vieira Neto
Verão de 2009

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