É muito interessante entendermos o conceito de cultura midiática ao olhos de nosso maior concretista, Drummond.
Se pensarmos o que levou o ser humano a ser coisificado pela cultura midiática, poderemos fazer duas possíveis associações: por um lado, que o homem sempre criou conhecimentos e se esqueceu (diria Nietzsche, perdeu a memória) de que ele foi o criador dos valores de verdade, ou seja, criou os conceitos e passou a viver a ficção da linguagem que engendrou; de outro lado, que o aspecto alienador e reificante da sociedade de consumo, da massa, pode ser vislumbrado no seio do processo capitalista e ideológico da sociedade ocidental (como apontou Marx " a religião[ideologia] é o ópio do povo).
Discutindo-se a questão da cultura midiática por estes dois aspectos é que podremos entender o arauto de Drumond que anuancia a coisificação (reificação) do ser humano em função de "Por me ostentar assim, tão orgulhoso [criador de conhecimentos e técnicas]; De ser não eu, mas artigo industrial, Peço que meu nome retifiquem. Já não me convém o título de homem. Meu nome novo é Coisa. Eu sou a Coisa, coisamente.
Por certo, não é somente a indústria, a tecnologia, as mercadorias do sistema produtivo e seus apelos midiáticos que reificam o homem. Pois de nada adiantaria se o ser humano não fosse preparado, cognoscitivamente, para absorever as doses cavalares da cultura de massa, sem nenhum critério reflexivo através dos processos políticos pedagógicos da educação moderna. Nitezsche diria que o conhecimento é o balsamo da alma do sujeito moderno. Como apontaria Hockherheimer e Adorno, tempos mais tarde, de que adiantaria o movimento de crítica das era da luzes contra a modernidade se o Iluminismo fadaria o homem a novos conceitos e sujeições, a novos modelos de reificações que desembocariam na lógica midiática da atualidade, da cultura de massa?
O que se descortina aos nosso olhos é que a cultura ocidental é marcada por uma força permanente e transitória que, mesmo se ressignificando, como acontece na sociedade de informação, permanece sendo uma cultura de massa, das mídias e, em nosso caso, uma cibercultura.
Contudo, no mundo em que a informação e o conhecimento estão democratizados e o sujeito passa a entender que é ele quem produz os conceitos da realidade, em função de sua ação cognoscitiva, o que o ser humano tem a fazer é buscar, incessantemente, o conhecimentos e se livrar das amarras ideológicas que o impede de refletir, criaticar, analisar, criar e viver. Temos que deixar de ser coisas para sermos atores de uma história em construção.
Hoje, a cultura midiática aponta uma possibilidade de nos aceitarmos como sujeitos pensantes e criadores de culturas. Basta que o homem aceite não ser coisificado por ideologias dominantes.
Como muito bem finaliza o vídeo acima: " Nós devemos amar as pessoas e usar as coisas. Hoje amamos as coisas e usamos as pessoas".
Moderno demais. O Poeta parecia descrever os dias atuais. Em pleno 2022 vivendo o poema citado à décadas.
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