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domingo, 15 de fevereiro de 2009

Filosofia ,Verdade e Realidade : uma reflexão contemporânea

A decisão de ingressar na vida acadêmica é uma das escolhas mais importantes no tortuoso caminho de compreensão da realidade da qual fazemos parte. Este encontro com novas idéias, paradigmas e paradoxos, faz com que o Sujeito de Conhecimento se depare com disciplinas desconhecidas ao olhar dos homens e mulheres que vivem à margem do Conhecimento, nos confins da cotidianidade.
Dentre as várias disciplinas a que se toma contato, uma delas causa um misto de espanto e repudia nos primeiros contatos com o acadêmico: a Filosofia.
Esta disciplina carrega em si um estigma monstruoso em virtude da imprecisa metodologia e didática a ela implementada, por professores tradicionais em salas de aula nos cursos regulares do país, que a enxergam como simples transmissão de biografias e de idéias pensadas no passado, tornando-a desconexa e evasiva em relação à realidade da qual se encontra inserido o homem e a mulher contemporâneo.
A repudia aos ensinamentos milenares da Filosofia é imediata e pode sim ter motivação metodológica/pedagógica. Todavia, será no momento de contato e encontro com as novas idéias, os novos posicionamentos de vida dos pensadores antigos e atuais e as novas expectativas quanto ao futuro das sociedades humanas e do planeta terra, que promover-se á o início do mal estar existencial e intelectual diante da Filosofia: uma gama de questionamentos povoam os cérebros dos jovens acadêmicos, fazendo-os se chocarem com as novas idéias propostas de um mundo até então desconhecido, inesperado, impensado e avassaladoramente repudiado.
Ora, por que deixar minha vida tranqüila ser abalada por conhecimentos estranhos ao meu mundo de felicidades momentâneas, românticas e de meu pensar formado para servir ideologicamente ao sistema? Dirão alguns acadêmicos. Isso é loucura! Gritarão os exaltados. Eu não posso acreditar que o mundo possa ser constituído destas idéias! Anunciarão os céticos. E por fim os dogmatas afirmarão: o mundo sempre foi e sempre será da maneira que sempre conhecemos!
A Filosofia proporciona sempre questionamentos quando se faz presente no pensamento humano, principalmente por ela ser um produto próprio do pensar humano. Assim, por certo, alguma mente vigilante e atenta entre os acadêmicos, poderá se questionar e indagar da seguinte maneira: Ora, mas para que se estudar Filosofia?; O que tal Conhecimento poderá acrescer nas conquistas da minha vida cotidiana?; Por que imergir-se no mundo desconhecido das idéias alheias?; Qual a contribuição de tais pensamentos para a verdade e a realidade de nosso tempo?; E, por fim, qual utilidade deste Conhecimento que faz desmoronar nossas mais enraizadas crenças?
Neste momento, as ocupações técnicas da vida pós-moderna cotidiana são deixadas de lado, os valores que predestinaram a humanidade são suspensos, e por um instante o Sujeito de Conhecimento olha para trás, fazendo-se perguntas fundamentais acerca do próprio eu, das coisas, dos valores e do mundo que, normalmente, não faria.
Começa-se, assim, a grande viagem libertária ao mundo do Conhecimento.
Mas, o que é o Conhecimento? Quais são os atributos dos valores de verdades universais dos Conhecimentos?
Em linhas gerais, poder-se-ia dizer que o Conhecimento é o esforço do espírito humano para compreender a realidade, dando-lhe um sentido, uma significação, mediante o estabelecimento de nexos aptos a satisfazerem as exigências intrínsecas à sua subjetividade
[1].
Mas para se rumar na viagem do novo olhar sobre o conhecimento da realidade, tem-se que compreender o uso do étimo Filosofia (Philos + Sophia), usado pelo grego pré-socrático Pitágoras (Séc. VI a.C.), como a significando amor à sabedoria. Deste modo, etimologicamente, pode-se constatar que a filosofia não é puro logos (palavra, saber), pura razão: ela é a procura amorosa da verdade
[2]. Portanto, não cabe à Filosofia propor regras, resposta aos problemas da cotidianidade, tampouco aliviar a inquietação acadêmica em função de um saber novo. E sim promover uma busca analítico-critico-reflexiva constante acerca dos valores universais que fundamentam o ser, as coisas, os valores e o mundo. A esse respeito, nos diz Immanuel Kant (1724-1804): A função da Filosofia não é dar regras, mas analisar os juízos privados da razão comum.[3]
Neste sentido, a Filosofia , no século XXI, vem promover um mergulho fundamental sobre a realidade, a fim de que se possa ter um novo olhar analítico-critico-reflexivo acerca dos valores e das ações humanas que norteiam as instâncias de verdade da realidade, com a intenção de mantê-las como verdade absolutas ou refutá-las, para que a humanidade se transforme e o progresso, com novos valores de verdade, possa nortear e fundamentar a vida e a cultura das sociedades.
Posto isto, poder-se-á compreender que a critica aos valores universais promovida pela buscas incessantes da Filosofia acerca do Conhecimento do Conhecimento é muito importante para que não se permita, nos séculos vindouros, abusos de imposições de verdades absolutas, sejam elas políticas , econômicas, religiosas ou sócio-culturais, impostas por homens e mulheres que se dizem profetas dos tempos vindouros e autoritariamente manipulam a realidade com suas maquinas de imposições de verdades absolutas.
Os valores universais, na atualidade, não podem ser aceitos senão após passarem pelo crivo da análise-critico-reflexiva, próprio da Filosofia, que os aceitará ou os refutará sob a pena de suas substituições por valores que sejam condizentes à realidade da ação efetiva dos homens e mulheres deste tempo e do Conhecimento produzido pelo diálogo intelectual dos seres humanos hodiernos.
Portanto, a aceitação da Filosofia na vida cotidiana é uma questão de postura ética do ser diante dos valores do eu, das coisas e do mundo, formadores da vida. Em uma palavra, é a ação reflexiva e dialética do ser humano que promoverá a História e o Conhecimento das sociedades vindouras.
Ora, posto desta maneira, poder-se-á aliviar as angustias intelectuais dos acadêmicos, e clarear as questões fundamentais propostas pelo acadêmico vigilante e atento, apontando-se a utilidade da Filosofia para a vida cotidiana do ser humano, parafraseando a Professora/Doutora em Filosofia da USP, Marilena Chauí:
Qual será, então , a utilidade da filosofia?
Se abandonar a ingenuidade e os preconceitos do senso comum for úti;, se não se deixar guiar pela submissão às idéias dominantes e aos poderes estabelecidos for útil; se buscar compreender a significação do mundo, da cultura, da historia for útil; se conhecer o sentido das criações humanas nas artes, nas ciências e na política for útil; se dar a cada um de nós e à nossa sociedade os meios para serem conscientes de si e de suas ações numa pratica que deseja a liberdade e a felicidade para todos for útil, então podemos dizer que a Filosofia é o mais útil de todos os saberes de que os seres humanos são capazes.
[4]


Octavio Silvério de Souza Vieira Neto Na tarde de verão - 01/02/2007



_______________________________
[1] - SEVERINO, Antônio Joaquim. Filosofia. São Paulo; Cortez, 1992. Col. Magistério 2º grau. Série Formação Geral. P. 67.
[2] ARANHA , Maria Lucia de Arruda. Filosofando ; introdução à Filosofia. 3. ed. São Paulo; Moderna, 2003. P. 88.
[3] MAGEE, Bryan. Historia da Filosofia. Trad. Marcos Bagno. 3. ed. São Paulo: Loyola, 1999. P.8-9.
[4] CHAUÍ, Marilena. Convite à Filosofia. 13. ed. São Paulo: Ática, 2004. P. 24.

Um comentário:

  1. Sr. Dr. Opinião pessoal. Dar ênfase aos atributos inatos, que junto ao conhecimento sensivel nomeia os objetos, as coisas.Kant me esclarecerá melhor as dúvidas sobre racionalidade. maura

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