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sábado, 23 de maio de 2009

A Formação Humana: para além da Bildung Moderna.

A compreensão do surgimento da Filosofia e seu desenvolvimento conceitual em Filosofia da Educação pode ser compreendido através da análise da Paidéia Grega Clássica e da Humanitas Moderna, geradoras de formas de consciência e do modelo de sujeito na modernidade.
A estruturação conceitual do cidadão grego, para viver na polis, e a fundamentação intelectual do sujeito moderno, para agir na sociedade capitalista, estruturará o ideário de racionalidade e a política pedagógica na modernidade que será o objeto de discussão e crítica na pós-modernidade. Em outras palavras, o sentido da formação ética da Grécia e da formação política (Bildung) do Iluminismo Moderno proporão a liberdade ao homem, escravizando-o ao sistema de valores da sociedade moderna.
Resulta disto, que a Paidéia Grega Clássica demarcará o estatuto do cidadão para viver na polis e a Humanitas Moderna demarcará o estatuto do sujeito moderno com suas formas de consciência (o eu, a pessoa, o cidadão, o sujeito epistemológico), o sujeito consciente de seus pensamentos e responsável por seus atos. Tais sentidos de formação instituirão a única maneira de o ser humano se situar no mundo adquirindo sua maioridade e tornando-se livres: aceitando as imposições institucionais, sociais e culturais de seu tempo conferidas pelo poder e saber engendrados pelas formas de consciência grega e moderna.
A Filosofia, portanto, como discurso racional para a formação do cidadão para a pólis grega e como fundadora do sujeito na sociedade moderna, ao buscar métodos seguros para a construção do conhecimento e certezas evidentes e indubitáveis para a instituição do saber, transformar-se-á em Filosofia da Educação e determinará os limites do pensar e da liberdade do ser humano. Pois, ao delimitar o que se pode pensar e de que maneira se pode agir para a constituição intelectual e cultural das sociedades humanas, a filosofia auxiliada pela pedagogia imporão, ao sujeito moderno, o pensado e as atitudes a serem tomadas para a construção da sociedade moderna em uma relação de Poder e Saber institucional.
A virada epistemológica será, portanto, a fundamentação teórica destes pressupostos na modernidade e a consolidação de propostas pedagógicas que dariam suporte ao surgimento do sujeito moderno para atuar na sociedade.
Assim, surgirão filosofias da educação e teorias educacionais que fundamentarão a Educação Tradicional e a Educação Republicana: a primeira fundamentada na filosofia de Descartes, que entendia a infância como um entrave para se atingir a verdade na razão pura propondo transformar a criança em um adulto em miniatura para atuar precocemente na sociedade; e a segunda fundamentada na filosofia de Rousseau, que entendia a infância como um estágio importante para se modelar o adulto que surgirá de uma criança que viveu uma infância majestosa e mediado pelo educador, fazendo a verdade brotar da sinceridade do coração e transformando a criança em um adulto apto para viver na sociedade.
Contudo, os pressupostos do sujeito moderno seriam abalados pensadores posteriores que colocariam em risco toda e qualquer certeza sobre a possibilidade de o sujeito moderno adquirir a maioridade. Pois a confiança na razão como única possibilidade de desvendar a realidade natural e humana através dos métodos de investigação filosófico-científico e a vontade de ser livre, não possibilitaram ao sujeito moderno ser consciente de seus pensamentos e responsável por seus atos.
Deste modo, o encantamento e a pretensão da subjetividade moderna diante do saber, proposta pelo iluminismo foi colocada em xeque-mate com o inevitável surgimento de novos posicionamentos intelectuais sobre o papel da Filosofia da Educação na construção de um saber pedagógico no mundo contemporâneo.
Nietzsche, demolindo os edifícios conceituais da sociedade ocidental indagará: por que sempre a verdade?; e os frankfurtianos (Adorno e Hokerheimer) indagarão: como pode ocorrer em sujeitos esclarecidos uma sujeição diante dos objetos de conhecimento.
Estas questões evidenciam que o sujeito moderno, livre e iluminado pelo saber da razão, tornar-se-ia refém de sua própria criação conceitual: tornar-se-ia objeto diante de um sujeito devastador, criação da própria subjetividade humana, a saber, o objeto de conhecimento conceituado e elevado a condição de certeza e evidência absoluta.
Neste contexto indaga-se sobre a problemática filosófico/pedagógica instituída pela Modernidade: Para que se transformar crianças em sujeitos modernos, conscientes de seus pensamentos e responsáveis de seus atos, uma vez que isto é impor uma dominação conceitual ao homem e mulher? Qual o papel da Pedagogia no processo de amadurecimento do homem e da mulher, uma vez que ela é a imposição ideológica de conceituações do espaço e tempo a que eles pertencem? Educa-se para a formação intelectual ou para a dominação sócio-cultural? Implementar racionalidade nos homens e mulheres é torná-los pessoas críticas ou sujeitos moldáveis pelo sistema? Como se configura a verdade, o saber humano nas sociedades ocidentais? Enfim, para que Educar?
Esta é a problemática discutida na hipermodernidade.
Não se têm respostas a estas questões, mas apenas novos posicionamentos intelectuais como os refletidos por Jacques Rancière em o Mestre Ignorante, que apontará para uma dialeticidade na construção dos saberes no processo de ensino e aprendizagem nas escolas ou a busca pela escola da paixão, como preconiza Gilles Lipovetsky.
Mas por certo a discussão não parará por aí. Pois, a busca por se descobrir as necessidades de se conhecer o próprio Conhecimento e a melhor maneira de estruturá-lo para formação ética, estética e política do cidadão contemporâneo, para que o mesmo viva comunicando-se, atualizando-se, dialogando, refletindo, criando e, sobretudo, emancipando-se das imposições ideológicas de seu tempo, fazendo prosperar a humanidade, é tarefa fundamental do próprio processo do filosófico do conhecer humano e, certamente, da edificação prática da Pedagogia nas sociedades.
Somente afeitos a uma reflexão analítico-crítico-reflexiva, a uma política pedagógica democrática e qualitativa e, fundamentalmente, prenhe de argumentações e discussões dialéticas fundamentais que tal os seres humanos da hipermodernidade farão progredir a história da humanidade.
Octavio Silvério de Souza Vieira Neto
Inverno de 2009

A Fomação e Expansão da Consciência Simbolizadora Humana

A formação da consciência humana passou por um processo de evolução gradual que situou o ser humano no patamar de racionalidade da atualidade. Pois, desde os idos primordiais, o ser humano estabelece um vínculo entre seu pensamento e a natureza do mundo, das coisas, dos outros à sua volta, e sobre si mesmo como um retorno a seu próprio pensar. Com isto, poder-se-á dizer que a consciência humana emergirá e se desenvolverá como estratégia da vida em favor de uma ação primaria para a sobrevivência.
Tal fato ocorrerá, porque os homens têm uma tendência espontânea para admirar, descobrir, conhecer, compreender e buscar as causas do mundo natural, as coisas objetivas, os outros nos campos de afetação e a si mesmo enquanto presentificação na natureza e na sociedade em que vive.
Nestes termos, Severino (1992, p. 20) dirá que "(...) a consciência humana se inaugura como impulso vital originário, como uma espécie diferenciada de instinto, sem rigidez de um puro mecanismo. E, nesse nível, a consciência faz corpo com o agir dos homens que assumem então um papel de sujeitos dessa ação, subjetividade até então puramente vivenciada, que não se dava conta de si mesma".
Portanto, neste processo de feitura da consciência e do dar-se conta de si mesmo, uma subjetividade relacionada com o mundo a sua volta, o homem desencadeará formas diversas de agir para sobreviver em seu contexto sócio-histórico cultural, reorganizando ou modificando os recursos naturais disponíveis em sua realidade. Ou seja, “essa capacidade é um dado novo, essa disponibilidade de um equipamento que lhes permite modificar, de acordo com uma intenção subjetivada, a ordem instrumental mecânica do mundo natural” (SEVERINO, 1992, p. 20).
No limiar deste processo o ser humano subjetivado irá promover três esferas da existência humana, a saber, a prática produtiva, criadora das condições técnicas do trabalho; a prática social, gerenciadora dos agrupamentos sociais; e a prática simbolizadora, geradora dos conceitos e valores do mundo, das coisas, dos outros e do si mesmo.
Contudo, no decorrer do exercício ativo de tais práticas humanas, umas esferas em relação às outras, adquirirão certa autonomia e independência, como se as mesmas tivessem finalidades próprias, uma vez que se utiliza de recursos específicos para as suas implementações.
Este é o caso da prática simbolizadora que se expandirá e se transformará, ao longo dos tempos, devido ao uso constante da subjetividade humana. Assim surgiram as explicações acerca do mundo, das coisas, dos outros e do si mesmo em bases mitológica, religiosa, científica, artística e fundamentalmente filosófica. A expansão da consciência simbolizadora, ocorrida através dos cilcos da história humana, passará de uma instância primordial em que a vida orgânica e instintiva realizará as curiosidades acerca da realidade para uma consciência vivencial, após para uma consciência representativa, em seguida para uma autoconsciência e, finalmente, aportando, em um estágio último, uma consciência crítico dialética, o que levará a dizer que: “(...) a atividade simbolizadora da consciência expressa a capacidade que o homem adquiriu, com esse equipamento, de substituir as coisas por um “substituto mental”, de tal forma que pode lidar com os objetos do mundo e respectivas relações num plano de reduplicação, os conteúdos mentais podendo ser trabalhados sem uma vinculação física aos objetos extramentais a que supostamente correspondem. Por exemplo, se vamos cortar um objeto, antes de corta-lo fisicamente, ”cortamos mentalmente” sua representação simbólica...”(SEVERINO, 1992, p. 35).

Bem, é com tal prática simbolizadora autônoma e independente que o homem gerará toda sorte de explicações acerca da realidade, a saber, o senso comum, o mito, a religião, a arte e a ciência, que ao lado da filosofia tentarão engendrar a realidade constitutiva do mundo natural, das coisas, dos outros e de si mesmo.
Dito desta forma, é que poder-se-á entender a relação existente entre a FILOSOFIA, o filme MATRIX, o filme PERFUME e o filme O MUNDO DE SOFIA.
Ora, se é próprio do homem uma prática simbolizadora,
também o é próprio a criação de realidades no mundo, sejam elas como as propostas no mundo da Matrix, ou as intencionadas por Jean Baptiste Grenauille, em Perfume, ou as de qualquer desejo subjetivo da alma humana como o vivido por Sofia Amundsen em O Mundo de Sofia. É com a prática simbolizadora que o homem pôde tentar satisfazer às perguntas fundamentais que inquietam a existência humana: quem sou?; de onde vim?; para onde vou? Tais questionamentos foram e são responsáveis por toda sorte de conhecimentos que os seres humanos são capazes. Essa é a história da filosofia, a história de seres humanos que se puseram a pensar e simbolizar a realidade da qual estão inseridos. Em uma palavra, o ser humano é o criador, gestor e ordenador da realidade que o circunda, seja ela sagrada ou profana, a partir de sua tendência à representatividade consciente da realidade.
Enfim, O mundo, as coisas, os outros, o si mesmo, as hierarquias, os poderes e os saberes são todos pensados e pensamentos da subjetividade humana. São conjeturas humanas. Aqui se pensa, aqui se cria!



Octavio Silvério de Souza Vieira Neto

Inverno de 2009