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domingo, 15 de fevereiro de 2009

Matrix: o despertar para um novo ser humano no mundo

O filme Matrix 1 apresenta-nos um mundo dominado por computadores autômatos e auto-gestores que, após longa disputa pelo domínio da Terra com os seus criadores, o homem do século xx, passam a dominar o ambiente terrestre e passam a produzir homens, a partir de tecnologia genética, para se tornarem baterias energéticas para o sistema cibernético de sustentação do mundo tecnológico das máquinas.
Com a guerra entre homens e máquinas, o primeiro propôs a “queima do céu”, poluindo-o e impregnando-o com uma camada espessa de poeira tóxica que impediria que o sol penetrasse por ela e alimentasse as máquinas, que se supunha terem sido criadas para absorver energia solar.
Após o domínio das máquinas sobre os homens, estes passam a ser bateria para sustentar um sistema cibernético das máquinas. O homem passa a ser um gerador de energia térmica que sustentaria a Matrix, um supercomputador que forjaria uma vida ideal para os pensamentos dos seres humanos que se tornaram bateria térmica.
A Matrix, portanto, é um sistema de controle dos desejos (desejos de se revoltarem contra o sistema), das atitudes, da vida dos seres humanos. Presos aos plugs de sustentação das baterias da Matrix, o homem, desde suas formação embrionária, ficaria impedido de ser autônomo, autômato e reflexivo para se tornar um ser inanimado, um suporte energético para a Matrix. O mundo do qual os seres humanos desfrutam no filme é um mundo ilusório gerado por um supercomputador da Matrix para que o homem leve uma vida benfazeja, ordenada, moralmente constituída, cientificamente comprovada e saborosamente feliz.
Neo (o protagonista do filme), um auxiliar de escritório de dia e um hacker à noite, será o escolhido para salvar a humanidade do domínio da Matrix. Auxiliado por Morfeu (que na mitologia grega era um deus que, após passar uma papoula vermelha sobre o homem, aparecia-lhe nos sonhos) aparece à Neo através do chat da internet, dizendo a ele que poderia responder-lhe a seu questionamento: o que é a Matrix?
Neo, ao questionar o que é a Matrix , irá nos remeter ao enfoque do filme e à proposta deste trabalho, a saber, porque existem momentos que paracemos estar sonhando acordado? Será que o mundo em que vivemos é real ou ilusório? Por que seguimos as regras, conceitos e mandamentos do sistema do qual estamos inseridos? Por que não podemos ser os mesmos e produzir nossa própria realidade?
Morfeu, acreditando que Neo é o escolhido, o dará a possibilidade de escolher entre viver no mundo ilusório (embasado em conceitos, comprovações científicas, verdades absolutas e paz perpétua) ou no mundo real (aquele que pela experiência sensível e vivida no mundo que nos cerca, poder-se-á ser reflexivo, criativo e atuante no mundo). Neo escolhe a pílula vermelha (como no mito de Morfeu) e entra na verdadeira realidade ( na nave Nabucodonossor em que se encontravam vários tripulantes, dentre eles a auxiliar direta do coronel Morfeu, a tenente Trinity; ver foto): o mundo real, um mundo caótico e destituído de valores de verdade conceituais, científicas absolutas em que o homem tem que produzir o dia-a-dia de sua existência.
É neste momento, que o filme será Trabalhado e interpretado no campo da Filosofia.
O que se pretende apresentar, ao discente do curso de Normal Superior, é que a filosofia procura despertar os alunos para a existência de dois mundo paralelos: um ilusório, promovido pelo posicionamento racionalista do ser humano; um mundo objetivado por conceitos e valores de verdade que fundamentam a rotina da vida humana nas sociedades; um sistema que impede o homem de refletir, desejar, transformar; um sistema de dominação promovido por uma cultura de massa que solapa qualquer possibilidade de criatividade humana. Outro real em que, a partir da experiência individual e coletiva, o ser humano reflete, deseja e transforma o mundo em que vive com suas ações criativas, éticas e políticas; um mundo em que os valores se transformam a cada nova reflexão-ação do ser humano na terra.
A filosofia despertará o ser humano (discente) do sono dogmático do sistema de valores que massificam os homens e mulheres nas sociedades contemporâneas.
Neo, levado a um oráculo (que, etimologicamente, pode ser entendido como a mensagem a ser recebida de uma divindade ou o mensageiro ao qual traz a mensagem dos deuses ao homem) no mundo ilusório da Matrix, receberá a seguinte mensagem: você não escolhido, para que sejas o escolhido terá que conhecer-te a ti mesmo e fazer um sacrifício. Escolher entre a sua vida e a de Morfeu.
Fica estabelecido, portanto, o elo de ligação entre o filme e a filosofia. Ora, desta mesma maneira, ao procurar pelo mais sábio dos sábios, Sócrates, no século V a.C., na Grécia Clássica, ao visitar o oráculo Pítia (ou Sibila) lerá no umbral do templo: Conheça-te a ti mesmo. Ora, Sócrates, além de conhecer-se a si mesmo, irá propor aos cidadão de sua cidade, Atenas, a filosofia como possibilidade de descoberta dos saberes individuais e criar novas possibilidades de valores conceituais para a fundamentação da realidade social de seu tempo. Tratando dos conceitos de virtude, coragem, justiça, entre outros, Sócrates proporá uma vida pelo saber para que se possa viver na felicidade.
O que se propõe com este trabalho, portanto, é que o discente, tomando contato com a filosofia, passe a se conhecer e a conhecer a constituição conceitual e pragmática do mundo em que vive; passe a entender o sistema de dominação ideológica do qual é constituída as sociedades, as instituições culturais e sociais e, sobremaneira, a instituição de ensino brasileira para que possa, a partir da reflexão do vários poderes de dominação social, situar-se no mundo como um agente transformador da realidade da qual está inserido. Tornando-se cônscio de seu poder transformador, o discente promoverá uma educação de qualidade e satisfatória às mudanças comportamentais dos seres humanos: transformar os seres humanos de agentes passivos e acéfalos dominados pelo sistema ideológico de seu tempo, em cidadãos reflexivos, éticos, esteticamente sensíveis e, sobretudo, politicamente atuantes nas sociedades em que vivem.
Neo, ao viver no mundo real, descobrirá o que é a Matrix (o sistema que nos oprime e nos seduz à docilidade) e tornar-se-á o escolhido transformando o mundo do qual está inserido. Percebendo-se como um ser de possibilidades no mundo, um ser humano autônomo, autêntico, autômato, apto a viver e enfrentar a desordem do mundo, promove-se em um novo posicionamento ético, estético e político e rompe com o sistema de dominação de seu tempo histórico (o tempo do filme). Foi tamanho o seu descobrir-se que despertou o amor da tenente Trinity (ver foto), um amor destinado ao futuro e selado com um grande beijo de salvação.
Neo, o salvador do mundo dominado pela Matrix, será o vigilante para que não se ocorra novas dominações sociais e sim novas alternativas de se viver criando, pensando e agindo no mundo social do qual se faz parte. E falando ao telefone com o telespectador dirá:

Eu sei que você está aí,
eu sinto você agora,
sei que está com medo.

Está com medo de nós,
está com medo das mudanças.

Não conheço o futuro,
eu não vim aqui dizer como isso vai acabar,
eu vim aqui dizer como vai começar.

Vou desligar este telefone,
e mostrar a essas pessoas o que não quer que elas vejam.

Vou mostrar a elas o mundo sem você [o sistema],
um mundo sem regras e controles, sem limites e fronteiras,
um mundo onde tudo é possível.

Para onde vamos daqui,
é uma escolha que deixo para você.

Octavio Silvério de Souza Vieira Neto Primavera 16/11/2006

Filosofia ,Verdade e Realidade : uma reflexão contemporânea

A decisão de ingressar na vida acadêmica é uma das escolhas mais importantes no tortuoso caminho de compreensão da realidade da qual fazemos parte. Este encontro com novas idéias, paradigmas e paradoxos, faz com que o Sujeito de Conhecimento se depare com disciplinas desconhecidas ao olhar dos homens e mulheres que vivem à margem do Conhecimento, nos confins da cotidianidade.
Dentre as várias disciplinas a que se toma contato, uma delas causa um misto de espanto e repudia nos primeiros contatos com o acadêmico: a Filosofia.
Esta disciplina carrega em si um estigma monstruoso em virtude da imprecisa metodologia e didática a ela implementada, por professores tradicionais em salas de aula nos cursos regulares do país, que a enxergam como simples transmissão de biografias e de idéias pensadas no passado, tornando-a desconexa e evasiva em relação à realidade da qual se encontra inserido o homem e a mulher contemporâneo.
A repudia aos ensinamentos milenares da Filosofia é imediata e pode sim ter motivação metodológica/pedagógica. Todavia, será no momento de contato e encontro com as novas idéias, os novos posicionamentos de vida dos pensadores antigos e atuais e as novas expectativas quanto ao futuro das sociedades humanas e do planeta terra, que promover-se á o início do mal estar existencial e intelectual diante da Filosofia: uma gama de questionamentos povoam os cérebros dos jovens acadêmicos, fazendo-os se chocarem com as novas idéias propostas de um mundo até então desconhecido, inesperado, impensado e avassaladoramente repudiado.
Ora, por que deixar minha vida tranqüila ser abalada por conhecimentos estranhos ao meu mundo de felicidades momentâneas, românticas e de meu pensar formado para servir ideologicamente ao sistema? Dirão alguns acadêmicos. Isso é loucura! Gritarão os exaltados. Eu não posso acreditar que o mundo possa ser constituído destas idéias! Anunciarão os céticos. E por fim os dogmatas afirmarão: o mundo sempre foi e sempre será da maneira que sempre conhecemos!
A Filosofia proporciona sempre questionamentos quando se faz presente no pensamento humano, principalmente por ela ser um produto próprio do pensar humano. Assim, por certo, alguma mente vigilante e atenta entre os acadêmicos, poderá se questionar e indagar da seguinte maneira: Ora, mas para que se estudar Filosofia?; O que tal Conhecimento poderá acrescer nas conquistas da minha vida cotidiana?; Por que imergir-se no mundo desconhecido das idéias alheias?; Qual a contribuição de tais pensamentos para a verdade e a realidade de nosso tempo?; E, por fim, qual utilidade deste Conhecimento que faz desmoronar nossas mais enraizadas crenças?
Neste momento, as ocupações técnicas da vida pós-moderna cotidiana são deixadas de lado, os valores que predestinaram a humanidade são suspensos, e por um instante o Sujeito de Conhecimento olha para trás, fazendo-se perguntas fundamentais acerca do próprio eu, das coisas, dos valores e do mundo que, normalmente, não faria.
Começa-se, assim, a grande viagem libertária ao mundo do Conhecimento.
Mas, o que é o Conhecimento? Quais são os atributos dos valores de verdades universais dos Conhecimentos?
Em linhas gerais, poder-se-ia dizer que o Conhecimento é o esforço do espírito humano para compreender a realidade, dando-lhe um sentido, uma significação, mediante o estabelecimento de nexos aptos a satisfazerem as exigências intrínsecas à sua subjetividade
[1].
Mas para se rumar na viagem do novo olhar sobre o conhecimento da realidade, tem-se que compreender o uso do étimo Filosofia (Philos + Sophia), usado pelo grego pré-socrático Pitágoras (Séc. VI a.C.), como a significando amor à sabedoria. Deste modo, etimologicamente, pode-se constatar que a filosofia não é puro logos (palavra, saber), pura razão: ela é a procura amorosa da verdade
[2]. Portanto, não cabe à Filosofia propor regras, resposta aos problemas da cotidianidade, tampouco aliviar a inquietação acadêmica em função de um saber novo. E sim promover uma busca analítico-critico-reflexiva constante acerca dos valores universais que fundamentam o ser, as coisas, os valores e o mundo. A esse respeito, nos diz Immanuel Kant (1724-1804): A função da Filosofia não é dar regras, mas analisar os juízos privados da razão comum.[3]
Neste sentido, a Filosofia , no século XXI, vem promover um mergulho fundamental sobre a realidade, a fim de que se possa ter um novo olhar analítico-critico-reflexivo acerca dos valores e das ações humanas que norteiam as instâncias de verdade da realidade, com a intenção de mantê-las como verdade absolutas ou refutá-las, para que a humanidade se transforme e o progresso, com novos valores de verdade, possa nortear e fundamentar a vida e a cultura das sociedades.
Posto isto, poder-se-á compreender que a critica aos valores universais promovida pela buscas incessantes da Filosofia acerca do Conhecimento do Conhecimento é muito importante para que não se permita, nos séculos vindouros, abusos de imposições de verdades absolutas, sejam elas políticas , econômicas, religiosas ou sócio-culturais, impostas por homens e mulheres que se dizem profetas dos tempos vindouros e autoritariamente manipulam a realidade com suas maquinas de imposições de verdades absolutas.
Os valores universais, na atualidade, não podem ser aceitos senão após passarem pelo crivo da análise-critico-reflexiva, próprio da Filosofia, que os aceitará ou os refutará sob a pena de suas substituições por valores que sejam condizentes à realidade da ação efetiva dos homens e mulheres deste tempo e do Conhecimento produzido pelo diálogo intelectual dos seres humanos hodiernos.
Portanto, a aceitação da Filosofia na vida cotidiana é uma questão de postura ética do ser diante dos valores do eu, das coisas e do mundo, formadores da vida. Em uma palavra, é a ação reflexiva e dialética do ser humano que promoverá a História e o Conhecimento das sociedades vindouras.
Ora, posto desta maneira, poder-se-á aliviar as angustias intelectuais dos acadêmicos, e clarear as questões fundamentais propostas pelo acadêmico vigilante e atento, apontando-se a utilidade da Filosofia para a vida cotidiana do ser humano, parafraseando a Professora/Doutora em Filosofia da USP, Marilena Chauí:
Qual será, então , a utilidade da filosofia?
Se abandonar a ingenuidade e os preconceitos do senso comum for úti;, se não se deixar guiar pela submissão às idéias dominantes e aos poderes estabelecidos for útil; se buscar compreender a significação do mundo, da cultura, da historia for útil; se conhecer o sentido das criações humanas nas artes, nas ciências e na política for útil; se dar a cada um de nós e à nossa sociedade os meios para serem conscientes de si e de suas ações numa pratica que deseja a liberdade e a felicidade para todos for útil, então podemos dizer que a Filosofia é o mais útil de todos os saberes de que os seres humanos são capazes.
[4]


Octavio Silvério de Souza Vieira Neto Na tarde de verão - 01/02/2007



_______________________________
[1] - SEVERINO, Antônio Joaquim. Filosofia. São Paulo; Cortez, 1992. Col. Magistério 2º grau. Série Formação Geral. P. 67.
[2] ARANHA , Maria Lucia de Arruda. Filosofando ; introdução à Filosofia. 3. ed. São Paulo; Moderna, 2003. P. 88.
[3] MAGEE, Bryan. Historia da Filosofia. Trad. Marcos Bagno. 3. ed. São Paulo: Loyola, 1999. P.8-9.
[4] CHAUÍ, Marilena. Convite à Filosofia. 13. ed. São Paulo: Ática, 2004. P. 24.

O Nome da Rosa: a aliança entre fé e razão no medievo ocidental

Estranhas e misteriosas mortes começam a ocorrer num mosteiro beneditino localizado no norte da Itália durante a baixa idade média, onde as vítimas aparecem sempre com os dedos e a língua pretos. O mosteiro guarda uma imensa biblioteca, onde poucos monges tem acesso a publicações sacras e profanas.
A chegada de um monge fransciscano, Wilhelm de Barskeville (Sean Conery) e seu noviço Adso de Melk (Chistian Slater) ao mosteriro, provocaria uma reviravolta sobre as suspeitas das mortes, que até então recaíam numa aura sagrada: profanações terrrenas no interior do mosteiro seriam a causa das mortes dos monges.
Dispondo de recursos sofisticados de investigação, como os instrumentos apresentados em cena, o astrolábio e o quadrante que eram utilizados pelos mouros e desconhecida da maioria dos cristãos, e afeito à lógica aristotélica, repudiada pelos monges beneditinos agostinianos em um momento em que os artífices da filosofia aristotélica era pouco ou totalmente desconsiderados, serão o indicativo de caminhos arrojados seguido pelo monge franciscano na investigação dos mistérios que assolavam aquela casa do Senhor.
Com uma perspicácia investigativa arrojada, Wilhelm de Barskeville sairá à caça de provas empíricas, na melhor interpretação de Sherlock Homes, personagem criado por Sir Conan Doyle, que baseava suas ponderações nos princípios aristotélicos e procurava o evidente em fatos obscuros e inexplicáveis, deixando o mote ao mundo: é elementar meu caro Wodison, que será explorado no filme pelo monge franciscano: é elementar meu caro Adso.
O filme, baseado no romance homônimo do escritor, professor e intelectual italiano Umberto Eco, se constitui em uma grande aula de história e filosofia. Pois além de apresentar uma representação fiel dos costumes, arquitetura e sociedade da época, enfoca com maestria a relação estabelecida entre a igreja católica e o saber secular: a relação entre fé e razão.
As perspectivas se abrem desde o princípio da trama, por estar, o telespectador, respirando os ares de um mosteiro encravado no alto de uma montanha, controlado por monges beneditinos e que receberá a visita de monges franciscanos para um concílio sobre a predestinação de Jesus e sua posse de bens materiais e de riquezas, tema este, próprio das argumentações franciscanas: Jesus era ou não dono das roupas que vestia, perguntariam os franciscanos ao representante do Papa, no filme. A atmosfera sombria da localidade, o aspecto doentio de muitos dos frades que aparecem no transcorrer da história, o tom escuro de muitas seqüências (efeito propositadamente trabalhado pelo diretor Jean-Jacques Annaud), a rejeição a conceitos considerados avançados pelas maiorias dos monges que circulam o mosteiro e a presença destacada da inquisição a partir da metade do filme, permite compreender o que foi a Idade Média dominada pelos valores da Igreja Católica.
Uma das maiores qualidades do filme está na reprodução de época, com a equipe de Annaud sendo assessorada pelo eminente historiador francês Jacques Lê Goff, o que confere ao filme maior credibilidade no que se refere à utilização do mesmo como recurso didático. O figurino, as locações (o filme foi feito num autêntico mosteiro medieval), a ambientação, as músicas, os objetos disponibilizados e mesmo a fotografia em tons lúgubres (escuros, dando-nos uma impressão de umidade nos locais de filmagens) se tornam referências para que possamos apresentar o domínio cristão no medievo.
A trama central gira em torno dos referidos assassinatos, atribuído pelos beneditinos às forças ocultas do mal, à ação demoníaca que teria dominado alguns dos monges daquela casa de Deus. É interessante ressaltar que conceitos como Deus e as forças do bem se confrontando com o diabo e o mal eram dominantes nesse período devido ao enorme poder da Igreja Católica (a grande força remanescente desde a época em que os romanos e seu grande império ruíram, ainda no longínquo século V); um dos maiores veículos de propagação dessa crença foram os trabalho do filósofo cristão Santo Agostinho (354–430 d.C.), em especial com a obra De Civitate Die, A cidade de Deus.
No período em que se passa a ação, a Igreja já passava por algumas dificuldades devido ao ressurgimento de cidades e rotas de comércio, além da concessão aos leigos para freqüentar as nascentes universidades (é dessa época um dos trabalhos que precederam o renascimento cultural e que são considerados basilares para as transformações que se operam na transição do mundo medieval para o moderno, ou seja, a obra clássica do italiano Dante Aliguieri, A Divina Comédia). O surgimento da Inquisição e a forma como essa instituição da Igreja foi se tornando cada vez mais dura na sua perseguição aos hereges comprova os receios por parte do mundo cristão.
É neste tocante que se sobressai Wilhelm de Barskeville por contrastar com a atribuição das forças do bem, do supra sensível, da crença beneditina, e se lançar numa investigação científica e policial em busca de provas, de evidências dos crimes (o que pode ser considerado como uma antecipação de posturas investigativas que passaram a ser adotadas no mundo moderno, quando do surgimento de correntes filosóficas e científicas apoiadas no empirismo e no racionalismo).
O confronto entre os franciscanos e os representantes da Inquisição, em destaque Bernardo Gui, coloca novamente frente a frente a questão maniqueísta, da luta entre o bem e o mal, apenas que interiorizados na Instituição que se considera, por excelência, a representação terrena dos dotes celestiais e da mensagem de bondade, da felicidade eterna aos homens.
Nestes termos, O Nome da Rosa, abre-se como material imprescindível para a análise, compreensão e contextualização da Filosofia e da Epistemologia, fortemente marcadas pelos princípios teológico-filosóficos da Igreja Católica medieval. Ademais aponta o princípio pedagógico de doutrinação do bem, imposto aos fiéis como único caminho de salvação do mundo dos homens em favor da felicidade eterna no mundo de Deus, como preconizara Agostinho. E, finalmente, aponta os novos caminhos abertos, nos últimos séculos do medievo, com a vinculação do pensamento Aristotélico à explicação ontológica da realidade dos entes, que será levado a termo por Santo Tomás de Aquino, na Suma Teológica, e mudará radicalmente o posicionamento intelectual do ocidente em favor da nova ordem intelectual na modernidade, a saber, o humanismo: o racionalismo e o cientificismo moderno.
Wilhelm de Barskeville, o monge fransciscano, será o representante intelectual renascentista, que com uma postura humanista científico-racional, conseguirá desvendar a verdade por detrás dos crimes cometidos no mosteiro provando a eficiência do novo método de investigação fundados nos pressupostos da lógica aristotélica de investigação da realidade, da multiplicidade, contrário ao da Inquisição embasado na tortura física e psicológica em favor da salvação humana. Wilhelm só não conseguirá salvar os livros raros do devastador incêndio da Biblioteca do Mosteiro.
Portanto, faz-se necessário no Curso de Filosofia e Educação I, de Normal Superior a apreciação deste drama policialesco inigualável do cinema, a fim de que se possa esclarecer e antever as questões que fundamentarão o Conhecimento (Filosofia, Filosofia da Educação e Pedagogia) na Modernidade.

Octavio Silvério de Souza Vieira Neto Primavera -16/11/2006