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terça-feira, 23 de fevereiro de 2010

Projeto: Anjos e Demônios, a reinvenção da cultura afro-brasileira.

“Religião é a consciência da divindade tal como se

encontra em nós mesmos e no mundo”

Friedrich Schleiermacher

”Assim fizeram os deuses, assim fazem os homens”

Mircea Eliade

Este prejoeto é fruto de uma situação problema em que uma criança negra passa a não sentir vontade de ir às aulas e qunado questionada pela mâe e professora o por quê de sua decisão faz a seguinte pergunta: Por que só existem anjos brancos?

A busca por instâncias que dêem conta do edifício simbólico de uma sociedade não é senão uma empreitada árdua e conflituosa a que todos os seres humanos devem experimentar, a fim de que possa, diante das imposições da vida valorativa, guiar-se em direções que mais o satisfaça em sua busca intelectual e espiritual.

Tal situação torna-se mais conflituosa quando, de posse de determinada cultura, tem-se a sensação de não pertença aos valores étnicos e culturais daquela sociedade. Pois a sensação de estrangeirismo[1] que solapa os seres humanos diante de imposições de verdades e poderes[2] de determinada cultura dominante, impõe um caminho de exclusão social de fatias humanas imprescindíveis para a arquitetura e plasticidade da formação sócio-cultural de todos os espaços e tempos humanos. Decore disto, uma sociedade sectarista que valoriza símbolos, rituais, saberes, modismos, arquiteturas, tecnologias e toda sorte de privilégios para apenas uma camada dos seres sociais de uma dada sociedade.

Tal fato pode ser naturalmente percebido na sociedade brasileira sem que seja fato único e exclusivo privilégio do Brasil. Pois em todas as páginas da história humana pode-se perceber a discriminação, o sectarismo e as imposições de valores dominantes de uns sobre outros, dos incluídos sobre os excluídos dos círculos sócio-culturais dominantes.

Contudo, a história vem demonstrando que a desmitificação étnico-racial e sócio-econômica e cultural vêm se manifestando e tomando forma de lei, como aconteceu na educação brasileira. A Constituição Federal de 1988 e as reformas infraconstitucionais, principalmente, as reformas educacionais, vêm propor uma reviravolta no estágio das desigualdades sócio-econômica e culturais brasileira, com a incorporação, aos PCN’s, das Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação das Relações Étnico-Raciais e para o Ensino de História e Cultura Afro-Brasileira e Africana. De mesmo modo, resoluções que regulamentam tal matéria no âmbito jurídico como a Resolução do MEC Nº 1, de 17 de junho de 2004 que no seu Art. 6º, § Único, regulamenta que os casos que caracterizem racismo serão tratados como crimes imprescritíveis e inafiançáveis, conforme prevê o Art. 5º, XLII da Constituição Federal de 1988. Ademais, os artigos relacionados no caput da resolução, apontam para a regulamentação de diretrizes curriculares para o trato da questão étnico-racial e sócio-econômica e cultural nos PCN’s, a fim de que a questão da desigualdade social no país possa ser minimizada nos próximos anos.

Como aponta o egresso Ministro da Educação Tarso Genro, no despacho publicado no Diário Oficial da União de 19/5/2004:



(...) aos estabelecimentos de ensino está sendo atribuída responsabilidade de acabar com o modo falso e reduzido de tratar a contribuição dos africanos escravizados e de seus descendentes para a construção da nação brasileira; de fiscalizar para que, no seu interior, os alunos negros deixem de sofrer os primeiros e continuados atos de racismo de que são vítimas. Sem dúvida, assumir estas responsabilidades implica compromisso com o entorno sociocultural da escola, da comunidade onde esta se encontra e a que serve compromisso com a formação de cidadãos atuantes e democráticos, capazes de compreender as relações sociais e étnico-raciais de que participam e ajudam a manter e/ou a reelaborar, capazes de decodificar palavras, fatos e situações a partir de diferentes perspectivas, de desempenhar-se em áreas de competências que lhes permitam continuar e aprofundar estudos em diferentes níveis de formação.

Precisa, o Brasil, país multi-étnico e pluricultural, de organizações escolares em que todos se vejam incluídos, em que lhes seja garantido o direito de aprender e de ampliar conhecimentos, sem ser obrigados a negar a si mesmos, ao grupo étnico/racial a que pertencem e a adotar costumes, idéias e comportamentos que lhes são adversos. E estes, certamente, serão indicadores da qualidade da educação que estará sendo oferecida pelos estabelecimentos de ensino de diferentes níveis.



Diante de tais proposições, justifica-se tal projeto, uma vez que cabe à filosofia dar uma nova visão àqueles de que dela se valem. Cabe à filosofia promover uma busca incessante sobre o conhecimento do conhecimento de maneira crítica, analítica e reflexiva, a fim de que todos os seres humanos se tornem atores incontestes de uma história forjada por homens e mulheres, que efetivamente engajados no mundo e na vida, como diria Larrosa, emplazados, ratifiquem a história sócio- econômica e cultural de uma nação. Ou ainda, que tais homens e mulheres tornem-se atores de uma história em criação que não leve em conta apenas o modelo de cultura civilizatória européia (dominante), mas que possa gerir-se das várias manifestações sócio-culturais tão presentes e próprias da miscigenação cultural brasileira. Pois ao tornarem-se homens [e mulheres] mais dignos, livres e sábios, diferentes e iguais, capazes até, ao invés de se adaptar, de recusar o mundo tal como está proposto nos termos atuais e engajar-se ativamente em sua transformação, com vistas a uma convivência mais justa e fraterna, possam reinventar, ressignificar e reconstruir a história de uma nação singular e múltipla; rica e pobre; negra e branca; africana, européia e asiática. Em uma palavra, uma sociedade que somente constitui-se por ser multirracial, multicultural, multilaboral: a sociedade brasileira.

Nestes termos, o presente projeto pretende produzir uma discussão filosófico-pedagógica acerca da questão étnico-racial no tocante aos símbolos religiosos brasileiros. Em específico, o que se pretende é desmitificar a dimensão do simbólico religioso no tocando à construção cultural e conceitual dos anjos arianos do crisitianismo a partir dos seguintes passos metodológicos:


· Apresentar o processo de formação sócio-econômica e cultural européia;


· Apresentar o processo de formação sócio-econômica e cultural brasileira;


· Discutir os aspectos epistemológicos da formação cultural européia e brasileira;


· Demonstrar, esteticamente, os aspectos simbológicos e salvíficos da estética medieval, renascentista (greco-romana), barroca e contemporânea no tocante à constituição dos anjos e demônios religiosos;


· Interpretar as obras literárias e assistir aos filmes disponíveis de A Divina Comédia, Dante Alighieri; O Auto da Compadecida, Ariano Suassuna; e Anjos e Demônios, Dan Brow;

  • Discutir a questão da criação de um tipo simbológico único de representação dos anjos e demônios no crisitanismo;


[1] - Alusão à Obra de Albert Cammus, O Estrangeiro.


[2] - Alusão ao conceito de saber e poder de Michel Foucault.

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